quinta-feira, 24 de junho de 2010

02:00 am

eram duas da manhã e eu sai pra respirar.
respirar o ar salgado que vem da maré alta, pisar com pés descalços na areia molhada, andar.
andar te procurando mesmo sem saber, e te achar.
sentado no pier, descabelado, descalço, com o moletom branco que eu amo e o cheiro doce de baseado e perfume importado, era você.
o abraço mais firme e seguro que eu já recebi, o sorriso mais irritantemente certo e branco que eu já vi, a risada rouca e baixa mais confortavel que alguém já teve passando pelo timpano, entre o martelo e a bigorna e enfim chegando ao cerebro, pulmão, pâncreas, fígado e qualquer outro órgão vital que não tenha parado com o seu hálito de capuccino com canela e balinha de menta soprando tão perto de mim.
eu andei duas horas na areia fria, descalça e com a blusa do pijama pra te ver.
andei com os cachos caindo no ombro, uma calça de moletom velha e manchada, olhando a lua e escutando o compasso das ondas, andei pra te ver.
ver o sorriso que você me abriu, a única covinha do lado esquerdo e seu olho verde de bom humor.
sentir o cheiro remanescente do baseado que o seu amigo acabou de apagar.
olhar pra você sentado esperando, sóbrio e irritantemente careta, esperando pra me ver.
esperando com um capuccino grande pra viajem 'sentado' no lado direito do banco, do ladinho de um saco todinho de balinhas de menta pra eu morder e fazer barulho.
você e a lua cheia.
você e seu perfume importado de patchouli.
você e o cheiro do baseado que você nunca fumou.
você e o seu abraço apertado, seu braço esquerdo na minha cintura, o direito na minha nuca,
eu e você, você e eu, você, eu, meu capuccino, minhas balinhas, o baseado.
a lua, a maré, a areia fria, a garoa, as pessoas dormindo nas casas de praia com tapetinhos escrito 'welcome' na porta da frente.
eu andei duas horas na areia fria, descalça e com a blusa do pijama pra te ver.
andei pra poder deitar no seu colo e te ouvir rindo da piadas mais sem graça que eu já contei.
pra sentir você batendo com seu coração bem perto de mim, andei de pijama e descalça duas horas num trajeto que eu poderia ter feito em cinco minutos.
andei de pijama na areia pra sentir a água batendo na beiradinha do pé, andei em círculos pra ter você todinho só pra mim, pra poder tomar meu capuccino frio e depois voltar em cinco minutos tudo que eu andei em duas horas, andar com a calça de pijama molhada, areia no cabelo, balinha de menta na boca, você do meu lado, contando baixinho o que ia fazer amanhã: estudar, me ver, comprar capuccino, balinha de menta, surfar, pegar as roupas na lavanderia, me esperar na porta de casa pra eu não ter que andar sozinha na praia, descalça e de pijama até o pier..
e já eram seis da manhã e o sol se punha, a maré não era alta e as pessoas acordavam nas casas de praia com as crianças esperando o café da manhã.. e você me deu um beijo na testa que fez meu coração, meu fígado, o timpano, o martelo e a bigorna parar.
parar assim como eu, pra dormir, pra sonhar, com o cabelo cheio de areia e a barra da calça molhada de mar, dormir pra jájá acordar, meu pai não sabe que eu levanto no meio da noite e ando com a blusa de pijama e a calça manchada pra te ver e minha mãe, essa nem sonha que eu durmo sem escovar os dentes do capuccino e o cabelo de areia, e a calça do mar.
mas eu sei, você sabe, a lua, a areia, a maré, as balinhas e a calça manchada também.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

derrepente

derrepente eu era só a menina que já foi amada, que passa e sorri rápido.
a menina que sorri com os olhos e olha com a boca, mordendo os lábios em um sorriso de lado..
derrepente eu era só a menina que passa e diz num sorriso tudo o que não disse naquele último dia.
derrepente tudo era passado, e o passado era todo novo, mais colorido.
porquê é isso que acontece quando a gente vai embora, lembranças boas gritam, esperneiam, machucam, enquanto as ruins, mesmo assim só nos fazem ter.. saudade.
saudade do perfume na dobra do braço.
saudade do sorriso no meio do pátio.
saudade, só saudade. saudade de ter, de ser, de amar, de dar, de receber.
e é assim que eu vivo, porquê derrepente eu sou só a menina que já teve, que já foi, que já amou, que já deu, que já teve alguém de quem recebesse, entende?
mas não é tão ruim assim.
derrepente eu era só a menina com um olhar indecifravel.
uma incógnita que olha e sorri, mas não diz, só pensa.
derrepente eu era só a menina que passa e sorri rápido..
que se diverte confundindo com uma sinceridade sagaz e vulgar.
derrepente eu aprendi a rir, e rindo aprendi a falar,
falar muito, tanto que doia a boca no fim do dia e os ouvidos de quem me ouvia,
derrepente eu passei a falar com a boca, ainda sim sorrindo de lado e mordendo os lábios, mas aprendi a olhar com os olhos também.
derrepente eu era só a menina que não fala nada certo, que passa e sorri rápido, corando de vergonha por nem lembrar o que falou.
derrepente eu era um monte de derrepentes que te passam e sorriem..

e depois, vão embora.