segunda-feira, 26 de julho de 2010

UTI

- 'Vai tranquila, ela tá bem.. tá calma, mas as vezes chora, porquê a gente nem sempre entende o que ela diz, querida'
- 'Pode deixar, tia.. Pode deixar'
Era minha primeira vez numa uti, mas sinceramente? Eu achei que fosse forte o bastante pra entrar e sair sem chorar, pra ver e conversar normalmente com ela, pra não me assustar.
Me enganei.
Entrei sorrindo, um sorriso de amor. Amor de verdade.
Sorri e disse erroneamente 'Oi prima, como cê tá?', recebi lábios mechendo sem palavras saindo.. 'Oi minha linda, tô bem', é o que imagino que ela tenha dito, não consegui entender, sou horrivel em leitura labial, sempre fui. Peguei na mão mais macia, e agora, tão pequena, que já existiu, fiz carinho nela, tentei de verdade entender o que ela dizia, mas não consegui, então concordei. Fiquei pouco tempo, mas não tão pouco a ponto de não dizer quanto o cabelo dela estava grande e comentar 'Daqui uns dias fazemos uma trança', que tola eu, ela é tão adulta, não uma criança!
Estiquei bem os pés e beijei o rostinho macio, falei das saudades, dei o recado da minha mãe e disse (dessa vez, de verdade) 'Amo você, prima! Estamos orando, fique com deus.. Te amo'.
Saí rapidinho, de cabeça abaixada, ouvi meu tio dizer sem disfarçar a emoção 'Obrigado viu Lara? Obrigado por ter vindo ver nossa Adne', eu só sorri.
Desci as escadas mais rápido que o resto e ouvi o porteiro dizer 'Que rápido!', mas não respondi, corri e sentei, bebi um copo d'água, conversei com meus tios, com uma outra prima e dei tchau pra um marido tão emocionado e abatido quanto meu tio.
Saí do hospital quase que correndo e chorei.
Chorei durante metade do caminho, chorei doído, sofrido.. E quando parei e falei com meu pai, ele gaguejou.. Também queria chorar.
Dormi mal e acordei com os olhos cansados, sofri um pouco da dor dela ontem e desejei não ter ido.. Mas se essa semana ela sair da UTI, vou no quarto vê-la de novo, vou sorrir outro sorriso de amor e tentar entender o que aqueles dentinhos ainda tão lindos me dizem, porquê se meu choro vale um sorriso dela, que eu chore muito então..

Y

Nos últimos tempos a vida tem agido de forma irônica e um tanto repetitiva em relação a mim.. aqui se planta, aqui se colhe, não é? E tenho colhido um tanto do que plantei a dois anos atrás e não só de amizades e arrependimentos tenho dito, mas de leviandade com os meus sentimentos, da resposta que a vida me dá por ter sido tão (desculpe pela repetição) leviana com sentimentos de tantos outros, mas esse último aliás, de nada tem a ver contigo.
Nesse caso, falo de arrependimento. De minha parte, é claro.
Vez ou outra me pego em uma velha mania boba e masoquista. Pego no flagra pensamentos ridículos de quem as vezes vive no passado, pensamentos de um eu que nem mais existe, suposições de como poderia ter sido, de como estaria sendo.
Eu é quem apareci pra você e não ao contrário, não é? Apareci com o pretexto (totalmente verdadeiro, aliás) de quem amou um albúm de fotografia, porquê é isso que eu fazia e ainda faço, respiro e vivo fotografias. As suas eram boas demais em meu antigo olhar, e acredito que ainda sejam.
Sei que comecei a falar contigo, que aliás, foi extremamente simpático comigo tão desconhecida..
Fostes um 'amigo' (ou conhecido, já nem sei) bem legal apesar de mim.
Eu que tinha só treze anos, eu que era chata e infantil, eu que não sabia destinguir meus sentimentos, eu que me arrependo de um dia já ter sido assim, mas sabe, eu precisei ser isso pra ser o que sou hoje. Mas é com um certo ressentimento (e com toda certeza uma grande ponta de vergonha) que lembro de mim.
Penso de verdade como poderia ter sido, passarias de conhecido a amigo? Acho que sim.
Culpa minha confundir falta de amizade com paixão. Amigos era o que eu precisava, mas achei que minha urgência em amizade fosse algo que até hoje desconheço a procedência, eu queria poder ter sido menos tola, mas talvez não tivesse aprendido a ser mais prática, sensata e menos impulsiva, é claro.
Hoje, dois anos mais tarde, queria pedir desculpas, mas talvez nunca tenha a coragem que preciso pra te mandar isso aqui.. Queria só que soubesses que essa semana lembrei de ti por causa de uma coisa que me dizestes e eu nunca esqueci: 'ouvir e escutar são coisas diferentes', e sabe, são mesmo.
Parabéns por teres aturado a pirralha inconveniente que fui por muito mais tempo que a maioria aguentou, haha, não fui fácil naquele ano, e talvez, continue não sendo, mas agora talvez de uma maneira menos chata, eu diria.. E obrigada, se lestes até aqui.
Saiba que ainda te acho aquela 'lindeza' de sempre e quando me perguntam se te conheço por causa de amigos em comum no orkut respondo 'arram, ele é uma graça, extremamente gente boa', eras assim, pelo menos até onde me lembro, e tenho certeza que com toda a maturidade que o tempo nos trás, estás cada dia melhor.. Acho que é isso.
Se procurares, tem um texto seu no inicio desse blog, adorava o jeito como escrevias, e de vez em quando, quando me perguntam sobre minha pulseirinha de palha, lembro que foi por causa de uma tua que comecei a usar, e uso até hoje.
Aliás, pra alguém tão passageiro, até que lembro-me muito de ti.. Continuo sofrendo com uma memória tão 'boa'.. Enfim, agora que cumpri com uma de minhas 'realizações de mudança nas férias' termino isso aqui.
Com carinho e admiração, L.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

02:00 am

eram duas da manhã e eu sai pra respirar.
respirar o ar salgado que vem da maré alta, pisar com pés descalços na areia molhada, andar.
andar te procurando mesmo sem saber, e te achar.
sentado no pier, descabelado, descalço, com o moletom branco que eu amo e o cheiro doce de baseado e perfume importado, era você.
o abraço mais firme e seguro que eu já recebi, o sorriso mais irritantemente certo e branco que eu já vi, a risada rouca e baixa mais confortavel que alguém já teve passando pelo timpano, entre o martelo e a bigorna e enfim chegando ao cerebro, pulmão, pâncreas, fígado e qualquer outro órgão vital que não tenha parado com o seu hálito de capuccino com canela e balinha de menta soprando tão perto de mim.
eu andei duas horas na areia fria, descalça e com a blusa do pijama pra te ver.
andei com os cachos caindo no ombro, uma calça de moletom velha e manchada, olhando a lua e escutando o compasso das ondas, andei pra te ver.
ver o sorriso que você me abriu, a única covinha do lado esquerdo e seu olho verde de bom humor.
sentir o cheiro remanescente do baseado que o seu amigo acabou de apagar.
olhar pra você sentado esperando, sóbrio e irritantemente careta, esperando pra me ver.
esperando com um capuccino grande pra viajem 'sentado' no lado direito do banco, do ladinho de um saco todinho de balinhas de menta pra eu morder e fazer barulho.
você e a lua cheia.
você e seu perfume importado de patchouli.
você e o cheiro do baseado que você nunca fumou.
você e o seu abraço apertado, seu braço esquerdo na minha cintura, o direito na minha nuca,
eu e você, você e eu, você, eu, meu capuccino, minhas balinhas, o baseado.
a lua, a maré, a areia fria, a garoa, as pessoas dormindo nas casas de praia com tapetinhos escrito 'welcome' na porta da frente.
eu andei duas horas na areia fria, descalça e com a blusa do pijama pra te ver.
andei pra poder deitar no seu colo e te ouvir rindo da piadas mais sem graça que eu já contei.
pra sentir você batendo com seu coração bem perto de mim, andei de pijama e descalça duas horas num trajeto que eu poderia ter feito em cinco minutos.
andei de pijama na areia pra sentir a água batendo na beiradinha do pé, andei em círculos pra ter você todinho só pra mim, pra poder tomar meu capuccino frio e depois voltar em cinco minutos tudo que eu andei em duas horas, andar com a calça de pijama molhada, areia no cabelo, balinha de menta na boca, você do meu lado, contando baixinho o que ia fazer amanhã: estudar, me ver, comprar capuccino, balinha de menta, surfar, pegar as roupas na lavanderia, me esperar na porta de casa pra eu não ter que andar sozinha na praia, descalça e de pijama até o pier..
e já eram seis da manhã e o sol se punha, a maré não era alta e as pessoas acordavam nas casas de praia com as crianças esperando o café da manhã.. e você me deu um beijo na testa que fez meu coração, meu fígado, o timpano, o martelo e a bigorna parar.
parar assim como eu, pra dormir, pra sonhar, com o cabelo cheio de areia e a barra da calça molhada de mar, dormir pra jájá acordar, meu pai não sabe que eu levanto no meio da noite e ando com a blusa de pijama e a calça manchada pra te ver e minha mãe, essa nem sonha que eu durmo sem escovar os dentes do capuccino e o cabelo de areia, e a calça do mar.
mas eu sei, você sabe, a lua, a areia, a maré, as balinhas e a calça manchada também.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

derrepente

derrepente eu era só a menina que já foi amada, que passa e sorri rápido.
a menina que sorri com os olhos e olha com a boca, mordendo os lábios em um sorriso de lado..
derrepente eu era só a menina que passa e diz num sorriso tudo o que não disse naquele último dia.
derrepente tudo era passado, e o passado era todo novo, mais colorido.
porquê é isso que acontece quando a gente vai embora, lembranças boas gritam, esperneiam, machucam, enquanto as ruins, mesmo assim só nos fazem ter.. saudade.
saudade do perfume na dobra do braço.
saudade do sorriso no meio do pátio.
saudade, só saudade. saudade de ter, de ser, de amar, de dar, de receber.
e é assim que eu vivo, porquê derrepente eu sou só a menina que já teve, que já foi, que já amou, que já deu, que já teve alguém de quem recebesse, entende?
mas não é tão ruim assim.
derrepente eu era só a menina com um olhar indecifravel.
uma incógnita que olha e sorri, mas não diz, só pensa.
derrepente eu era só a menina que passa e sorri rápido..
que se diverte confundindo com uma sinceridade sagaz e vulgar.
derrepente eu aprendi a rir, e rindo aprendi a falar,
falar muito, tanto que doia a boca no fim do dia e os ouvidos de quem me ouvia,
derrepente eu passei a falar com a boca, ainda sim sorrindo de lado e mordendo os lábios, mas aprendi a olhar com os olhos também.
derrepente eu era só a menina que não fala nada certo, que passa e sorri rápido, corando de vergonha por nem lembrar o que falou.
derrepente eu era um monte de derrepentes que te passam e sorriem..

e depois, vão embora.

domingo, 25 de abril de 2010

eu sei de você

eu não sei escrever bonito sobre o realmente bonito..
não sei escrever direito sobre o que me faz ser direito,
eu já não sei nem mesmo escrever sobre coisas minhas,
então vou escrever sobre coisas tuas:
tua risada, tão boba e meio sarcastica..
teu abraço tão por inteiro desajeitado,
tua cor amarelinha de tão branca, e nunca,
NUNCA, dourada do sol..
tuas palavras tão duras que chegam a ser carinhosas,
teus ensinamentos, se é que podem receber esse nome,
tão certos, tão teus, e agora, tão meus!
tu por inteira, tão bonita, tão meiga, tanto que nem sabes..
eu te conheço, e se tu as vezes não sabe, vou te dizer,
eu sei, sei quem és, e o melhor, sei como és, tá bom?

GRARW

Você, que me sorri através de uma tela, me faz sentir amada quando sequer pode me dar um abraço, fica sempre aqui, mesmo quando não tá.
Vem, me mostra o quão grande nós somos lado a lado, faz com que eles vejam como tudo pode ser simples, ou como tudo que é complicado pode ser mais ainda, e ainda assim, ser um complicado alegre, porque é você que vai estar rindo das minhas bobagens.
Pode até parecer loucura, mas que seja, porque ninguém pode negar o que ficou.
Amor, aqui, ali, sempre amor, mesmo que mude.

Agora esteja bem, aperte seus olhinhos enquanto contrai os musculos desse rosto lindo, me mostra esses dentinhos perfeitos e grita pra mim amor, mesmo que eu não possa escutar, eu vou sentir, eu sei, você sabe.

texto da giovs (http://silogismoseis.blogspot.com/)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

como?

até agora pensei que só pudesse sentir falta do que já tive.. e bem, desculpe pela frase confusa, mas eu sinceramente não consegui expressar de outra forma.. hoje acordei meio confusa, sentindo falta de algo que nunca tive..
posso sentir seu cheiro e tua força quando me pegavas em teus braços..
posso sentir teu abraço! como? como? eu nunca o tive.. mas eu o sinto!
sinto teu peito batendo contra o meu.. posso até sentir teu cheiro de mar e baseado, um cheiro doce e ao mesmo tempo salgado.. posso ouvir teu riso chapado, baixinho, ao pé do ouvido..
posso te ver me chamando 'minha linda, vem cá', posso sentir teu carinho, tua preocupação, posso até sentir a segurança que você me passava.. consigo até reproduzir algumas coisas do teu vocabulario.. esse ultimo alias, que nunca esqueci.. posso sentir aqui dentro de mim um nó que nem nunca foi feito, uma peça de um quebra-cabeça que nunca existiu.. e um eu de um nós que nunca esteve aqui.. como? como?